quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Uso dos Palavrões

Por Gabriel Martins

As vezes eu me pergunto o que seria da humanidade sem os palavrões.

Anos atrás eu recebi um e-mail intitulado “O Direito ao Foda-se”, onde o escritor pega os palavrões e disserta sobre a funcionalidade deles no nosso dia-a-dia. Então esses dias, eu tava no site do Youtube e vi que uns atores haviam adaptado esse texto em uma peça de teatro. Ri bastante e pensei é verdade.

Mas ele pecaram em não mostrar as várias funcionalidades dos palavrões, resumindo-as a poucas situações. A peça começa com o famoso “Foda-se”, onde eles mostram uma situação corriqueira em que podemos aplicá-lo – depois de tomar um fora, você vira pra menina e diz: “Oh gatinha, tu não vai ficar comigo não? Foda-se!!!”.

Mas, de fato, os palavrões hoje foram escalados praticamente como parte da língua portuguesa.

O Foder, por exemplo, virou até verbo. Eu fodo, tu fodes e ele fode. Tipo, uma suruba!

No cotidiano por exemplo, Eu me fodo o tempo todo! Tu te fodes em casa! Ele se fode sozinho! E assim vai.

Voltando a peça, eles passam pro “Pra Caralho”, pra demonstrar idéia de quantidade. E dão até um exemplo científico. A via Lactea tem muita estrela? Não. Tem bastante estrela? Não. Tem estrela pra chuchu? Nãããoooo!! A via Láctea tem estrela pra caralho. O céu é grande pra caralho. O universo é antigo pra caralho!! E por ai vai.

Mas o que não se diz, é que hoje a palavra caralho passou a ser praticamente preposição de muita conversa, principalmente quando você recebe uma noticia surpresa. Tipo, a mulher ta conversando com uma amiga e ela diz: “Pô, fulana ta grávida.”. A outra já responde: “Caralho!! Não acredito. Que legal!!”. Dois cara trocando idéias: “Oh rapaz, Cicrano morreu, sabia?” – “Caralho!! Mas ele era tão jovem!”. E por ai vai.

Então segue a peça e vem o “Porra nenhuma”. Diz-se de um palavrão pra minimizar ao extremo tudo. Se pra caralho é muito, porra nenhuma é o máximo do nada. Daí vem os ASPONE da vida (Assistente de Porra Nenhuma). Você acaba com a pessoa e ela nem pode dizer nada. Mas a palavra porra também é usada em todas as situações possíveis e impossíveis, mas claro, sempre como preposição. Tua mulher deu a luz e você liga pros amigos contando, eles perguntam o sexo e você cheio de orgulho: “Porra, é um menino!”. Ou, você vê que fez cagada no trabalho, vem seu supervisor e pergunta como estão as coisas, o você vira pra ele e fala: “Porra... estraguei tudo!!!”.

Falam na peça também do maravilhos “Puta que Pariu!”. Esse é ótimo. Dizem que ele desestressa, alivia e te da até poder. Quando você ta querendo falar e não te deixam, você grita um puta que pariu que todos se calam e te ouvem. É mágico! Quanto a esse eu não tenho o que comentar. Você tem as variações pras várias situações. Puta que O pariu! Quando você vê algo que envolve outras pessoas. Puta que ME pariu! Quando você vê que se ferrou.

Daí vem o “Vai tomar no Cu!”. Outro que virou rotina. É preposição em tudo. Não vê um amigo faz tempo já grita: “Ah, vai tomar no cu! Como é que você ta?”. Nossa!! As pessoas nem se ofendem mais. Elas até respondem: “Caralho!!! Quanto tempo!!”. Putz!! Não dá nem mais pra ofender alguém.

A peça termina com o “Fudeu” ou melhor “Fudeu de vez”, que é a beira do abismo e você no tem mais pra onde fugir da merda que ta metido. Olha pra situação e fala: “Éh... Fudeu de vez!!”.

Mas outras palavras antes apenas normais, tornam-se palavrões com uma facilidade incrível.

Como por exemplo, “Boceta”. Alguém já viu no dicionário o significado de boceta? Boceta quer dizer pequena bolsa para pesca. Em Portugal é caixinha para guardar rapé. Como, como os brasileiros transformaram isso é palavrão? E este, como todos os anterior, hoje é preposição para início de conversas e, como o Caralho, sempre vem acompanhado de alguma surpresa.

Uma outra palavra que se tornou palavrão é o cacete. Vocês sabem o que significa cacete? Simples. Pau para bater. Como o cacete também se tornou um palavrão? E ele é usado tanto quanto preposição de surpresas, quanto pra expressar quantidade. Tipo: “Cara, ontem eu fui no bar com uns amigos e bebemos cerveja pra cacete!!”. Como um pau para bater se torna sinônimo de quantidade?

E tem também algumas palavras que antes eram somente vulgares que também tornaram-se palavrões. Como Merda, por exemplo. Merda hoje quer dizer que a desgraça está feita e não tem como consertar. Deu merda em alguma coisa esquece e tenta procurar alguém pra por a culpa porque, quando o erro é classificado como Merda, alguém vai ser prejudicado. O pior é que o erro tem etapas. Primeiro ele é uma Cagada, e ainda dá tempo de resolver. Depois passa pra uma Bosta, onde a situação ta crítica mas não é irreversível. Mas quando ele vira uma Merda, esquece. Corre e deixa o primeira a vê-la, ser culpado.

Tem um palavrão, e esse é pra fechar, que eu não entendo. É o Filho da Puta! Como a gente pode chamar a mãe de uma pessoa de Puta? O pior, é que muita vezes a gente nem conhece a mãe da pessoa. E se por acaso ela gosta de dar, ela não é puta, a menos que cobre pelo serviço. Mas, mesmo assim, a gente não tem nada a ver com a vida da mãe das pessoas. Então pra que ofendê-las? O pior é quando são as variações, onde a mãe do sujeito é chamada de tudo. Você quer ofender o cara e chama ele de Filho da Puta! Filho de uma Égua! Filho de uma descabaçada!! Esse é imperdoável. Toda mãe é descabaçada, então pra que gritar com um cara o óbvio?? O pior disso é a pergunta que fica. De onde saiu a palavra Puta? Porque até hoje a nomenclatura pra uma garota de programa ainda é Prostituta. A coisa fica um pouco pior quando pensamos nas ramificações que a palavra – ou profissão, sei la – prostituta faz. De prostituta elas foram decaindo a meretrizes, putas, vadias, cadelas, rampeiras, éguas e até – pasmem com isso – jumentas! Pelo amor de Deus, o que as pobres da cadelinhas, das eguinhas, das jumentinhas tem a ver com a prostituição do mundo?

Olha...

A língua portuguesa é extremamente rica. Mas o brasileiro tem uma imaginação miserável pra inventar palavras e o que é pior, denegrir palavras já existente para ofender o outro.

Quando assunto é atingir a moral de outra pessoa, o ser humano é insuperável.

Mas com essa popularização do palavrão, quando eu estiver muito puto com alguém, pra eu conseguir ofender a pessoa hoje, acho que só virando pra ela e gritando: “Seu ornitorrinco!!!”.

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